sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

PROPOSTA DE ENCENAÇÃO

HOLOCLAUSTRO

O espetáculo “Holoclaustro”foi criado a partir de estudos acadêmicos sobre a obra do dramaturgo alemão Bertolt Brecht unindo dois desejos: a investigação do gênero épico no teatro e a curiosidade aguçada pela vasta obra do autor. Na medida em que este universo era abordado pelos atores, um panorama histórico se destacou dos demais: o caráter massacrante dos regimes totalitaristas, evidenciado na obra de Brecht na sua luta contra o Nazismo.

A encenação busca a partir do contexto histórico nazista colocar em perspectiva o comportamento de uma sociedade na sua macro e micro relação, sobrepondo diante desse pano de fundo outras tantas particularidades totalitaristas, inclusive contemporâneas. Numa época onde oprimidos e opressores convivem em aparente harmonia, onde aquele que oprime assume faces aparentemente neutras e onde o consumo exacerbado ignora o ônus de quem trabalha na linha de produção, o teatro e a reflexão distanciada brechtiana torna-se um instrumento de esclarecimento, uma arma de reflexão em massa.

Como linha de pesquisa, o projeto adotou três frentes: literária, videográfica e sonora. Na pesquisa literária tomamos contato com a poesia do autor alemão (“Brecht; Poemas: 1913-1956”), suas investigações de vanguarda sobre o trabalho do ator (“Estudos Sobre Teatro” e “Diários de Brecht”), além de sua dramaturgia (“Bertolt Brecht - Teatro Completo”) e de pesquisadores de sua obra (Gerd Bornheim e Martin Esslin). Na pesquisa videográfica, foram consultados tanto documentários (“Arquitetura da Destruição”, “Swastika”, “Triunfo da Vontade”, “Olympia”, etc) quanto longas-metragens (“A Queda”, “Moloch” “A Solução Final”, etc). Sonoramente a pesquisa buscou uma ambientação para os atores e para o espaço cênico reduzido, de forma a compor a narrativa como um 5º ator.

A luz da encenação é sucinta, uma vez que se trata de um espaço alternativo, adaptável para palcos italianos, com capacidade para, no máximo, 60 pessoas.

Os figurinos seguem a estética nazista, porém, alguns adereços de cena remetem a uma atemporalidade, reforçando a ponte com outros tipos de totalitarismo.

O gênero da encenação é assumidamente épico, calcado nos recursos brechtianos de interpretação. O processo de montagem (4 meses) utilizou da escassez de recursos cenográficos, bem como do espaço reduzido de modo a sustentar a sensação de claustrofobia, trocadilho este agregado ao nome do espetáculo. Como base dramatúrgica foram escolhidas cenas curtas da obra “Terror e Miséria no Terceiro Reich” alinhavadas com poemas do mesmo autor escritos durante o período em que este foge da Alemanha nazista, bem como trechos da peça “O Interrogatório” de Peter Weiss. Num sistema coringa, o elenco se reveza entre papéis que se completam ou por vezes se opõem, deixando o julgamento de suas relações de força e poder nas mãos do espectador.

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